Pular para o conteúdo principal

Poeira Tóxica

Pesquisa do Ipen identifica metais pesados e aditivos usados na fabricação de plásticos no pó acumulado em residências de São Paulo. Os compostos podem causar diversos problemas à saúde, como anemia, alergias, distúrbios endócrinos e até mutações genética

A poeira da sua casa pode representar um grande risco à sua saúde. Essa foi a conclusão de recente pesquisa realizada em residências de quatro bairros da região norte de São Paulo. A análise de amostras de poeira doméstica mostrou grandes quantidades de componentes químicos, como metais pesados e aditivos usados na fabricação de plástico. Essas substâncias provocar anemia, alergias, distúrbios endócrinos e até mutações genéticas.

Segundo a química Valdirene Scapin, que realizou o estudo em seu doutorado no Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), a ideia de analisar a poeira doméstica surgiu a partir de sua própria experiência com a limpeza da casa. “Assim como eu, várias outras donas de casa precisam saber o que esconde a poeira com que elas lidam todos os dias”, diz.

Para a pesquisa, orientada pela química Ivone M. Sato, do Ipen, foram coletadas amostras de poeira em ambientes fechados de residências de áreas próximas a indústrias, aterros sanitários e rodovias, para avaliar o nível de contaminantes presentes no material. Com o auxílio de um aspirador de pó e filtros de papel, os próprios moradores coletavam a poeira de janelas, do chão, de tapetes e de móveis.

Depois, os pesquisadores identificaram os componentes orgânicos e inorgânicos presentes no material. Dentre os compostos químicos encontrados, estavam metais prejudiciais à saúde, como cobre, chumbo, zinco e níquel, além de ftalatos, grupo de substâncias orgânicas industriais presentes em plásticos, cosméticos e têxteis.

A análise mostrou que a quantidade de zinco, cobre, chumbo e níquel encontrada na poeira doméstica é de 664 a 3.721 vezes maior do que os valores totais a que os adultos normalmente podem estar expostos em locais fechados. Esses metais podem causar náuseas, diarreia, anemia e alergias e até representar riscos mais sérios à saúde, como danos ao sistema nervoso central e aos órgãos internos.

Segundo Scapin, a presença desses metais pesados pode estar relacionada aos hábitos dos residentes e a fatores externos. O chumbo, por exemplo, pode aparecer devido ao uso de cerâmica, vidros, baterias ou inseticidas. Outros elementos podem migrar para as residências a partir de sapatos e roupas que tiveram contato com o meio exterior.
Os grandes vilões do plástico

A pesquisadora também encontrou altas concentrações de ftalatos na poeira doméstica. “A quantidade encontrada foi surpreendente e assustadora”, confessa. Na indústria, os ftalatos (ou ésteres ftálicos) são incorporados a outros materiais para garantir maior flexibilidade aos objetos. Esses compostos são usados na fabricação de componentes eletrônicos, brinquedos, utensílios domésticos e produtos de higiene pessoal.

Mas os ftalatos podem se desincorporar desses materiais, migrar para o ambiente e, assim, ser absorvidos pelas pessoas. O contato humano com essas substâncias, seja por ingestão, inalação ou pela pele, pode causar diversos problemas à saúde, em especial nas crianças, grupo mais vulnerável.

Testes realizados com animais mostram diversos efeitos desses compostos, como diminuição da fertilidade em fêmeas, níveis de hormônio alterados, danos uterinos, defeitos fetais e redução da sobrevivência dos filhotes. Além disso, essas substâncias são classificadas como desreguladores endócrinos e degeneradores do fígado e dos testículos. Mas a maior preocupação em relação aos ftalatos está na sua capacidade de ativar células cancerígenas.

Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a concentração de poluentes nos ambientes internos é de 2 a 5 vezes maior que nos externos. “Como passamos de 80 a 90% do nosso tempo nesses ambientes, a preocupação deve ser ainda maior”, enfatiza Scapin. E acrescenta: “Devemos fazer um trabalho de prevenção e evitar o uso de materiais de plástico de má qualidade, preferir produtos de limpeza à base de água e garantir a limpeza dentro de casa.”




Autor: Larissa Rangel
Fonte: Instituto Ciência Hoje

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AIisantes de Cabelo tem Riscos!

Ingredientes de alisantes de cabelo podem induzir mutações no DNA Conclusão é de um estudo feito pelo pesquisador Israel Felzenszwalb, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Beleza enganosa Algumas substâncias presentes na formulação de cosméticos podem ter ação mutagênica, ou seja, modificar o conteúdo informacional do DNA, o que pode levar ao câncer. A conclusão é de um estudo feito pelo pesquisador Israel Felzenszwalb, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que coordena projetos que investigam atividade mutagênica e/ou antimutagênica em produtos naturais e sintéticos. Perigo dos alisantes para cabelo A pesquisa foi subdividida na análise de oito compostos. Um deles é o ácido pirogálico, ou pirogalol, presente em alisantes industriais do tipo henê. Desde 1976, a Comunidade Europeia mantém o pirogalol na lista de substâncias proibidas como ingredientes para cosméticos. No Brasil, porém, seu uso ainda é permitido sem restrições pela Agência Nacional de Vigilânc

Dermatite Atópica: Efetividade de Tratamento Homeopático

An. Bras. Dermatol. vol.78 no.5 Rio de Janeiro Sept./Oct. 2003 Efeitos clínicos em crianças com dermatite atópica submetidas a tratamento homeopático, de Luciana Valentini de Melo Cesarini. Tese apresentada ao Instituto Brasileiro de Estudos Homeopáticos para obtenção do Título de Mestre em Homeopatia. São Paulo - 2002. Orientador: Prof. Dr Mário Cezar Pires RESUMO A dermatite atópica é considerada uma dermatose inflamatória crônica, com surtos de recorrência, mais comum na infância e na adolescência, apresentando prevalência crescente. O tratamento preconizado consiste na utilização de emolientes, corticosteróides tópicos, anti-histamínicos, e, na presença de infecção associada, a utilização de antibióticos. Nos casos graves, estão indicadas drogas por via sistêmica, como os corticosteróides e imunossupresores. Apesar da boa resposta apresentada a esses tratamentos, parte considerável dos doentes tendem a cronificação do quadro, com comprometimento da qualidade de vida. Ademais, o